Os satélites artificiais são equipamentos criados pelo ser humano que orbitam planetas, isto é, realizam uma trajetória que os circundam. No planeta Terra eles são lançados para diversas finalidades, como para navegação, comunicação, exploração do Universo, acompanhamento meteorológico, monitoramento de aspectos da superfície terrestre (como o desmatamento) e até mesmo para fins militares. Apesar da ideia de fazer um objeto orbitar um planeta já ter sido teorizada por Isaac Newton, no século XVII, os satélites artificiais surgiram somente no contexto da corrida espacial da Guerra Fria, no século XX, sendo que o primeiro satélite colocado em órbita pelo ser humano foi o Sputnik I, pela União Soviética em 1957.
Desde então, produzir e monitorar satélites indicam grandes avanços tecnológicos e científicos. A seguir estão apresentados os 4 principais programas de satélites brasileiros.
Missão Espacial Completa Brasileira (MECB):
A Missão Espacial Completa Brasileira foi aprovada pelo governo federal em 1979 e previa o lançamento de 4 satélites. Dentre eles, 2 seriam o SCD-1 e o SCD-2 e os outros 2 seriam o SSR-1 e o SSR-2, todos servindo para sensoriamento remoto, com diferentes focos. No entanto, apenas os satélites SCD-1 e SCD-2 foram lançados.
SCD-1
Lançado em 9 de fevereiro de 1993, foi projetado, construído, testado e operado totalmente pelo Brasil, porém foi colocado em órbita pela NASA, em um foguete do tipo Pegasus. O satélite brasileiro possui 115 kg, opera a uma altitude de 750 km e coleta dados na banda S (frequências entre 2 a 4 GHz), incluindo assim a faixa UHF (Ultra High Frequency), entre 0,3 a 3 GHz, que é a mesma dos sinais de rádio e de televisão. Sua vida útil foi inicialmente projetada para até 2 anos, porém o satélite ainda está em operação. Isso se deve a uma alta competência técnica por parte do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão responsável pelo seu desenvolvimento e operação. Atualmente o satélite já ultrapassou 6 bilhões de quilômetros orbitando a Terra, o que equivale a mais de 25 vezes a distância da Terra a Marte.
SCD-2
Foi o segundo satélite brasileiro, lançado também em um foguete do tipo Pegasus da NASA (nos Estados Unidos) no dia 22 de outubro de 1998. Possui as mesmas características e foi colocado em órbita com o intuito de complementar o monitoramento já realizado pelo SCD-1. Também segue em funcionamento.
Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite)
O programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, na sigla em inglês) consistiu em uma parceria firmada entre os governos brasileiro e chinês no dia 06 de julho de 1988 que previa o lançamento de 5 satélites de sensoriamento remoto até 2011. No entanto, até o presente momento já foram lançados 6 satélites no programa, sendo a 1ª geração composta pelos satélites CBERS-1, 2 e 2B; e a 2ª geração composta pelos satélites CBERS-3, 4 e 04A.
No acordo firmado para o desenvolvimento dos aparelhos da primeira geração, o Brasil era responsável por 30% dos investimentos, enquanto que a China era responsável pelos 70% restantes do investimento necessário. Já no acordo firmado em 2002 para a construção dos satélites da segunda geração, os investimentos foram divididos igualmente entre os dois países. Em 2004 o Brasil e a China estabeleceram uma política de livre acesso a dados públicos e, com isso, o Brasil se tornou o maior distribuidor de imagens de satélite do mundo.
1ª Geração CBERS
A primeira geração de satélites do programa CBERS teve início com o lançamento do CBERS-1, em 14 de outubro de 1999, que continha câmeras imageadoras (sensores CCD, IRMSS e WFI) que forneciam dados para o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais. Em 21 de outubro de 2003, após o primeiro satélite do programa ter sido inativado em agosto de 2003, o CBERS-2 foi lançado para a órbita terrestre, sendo este um satélite com as mesmas características e de mesma constituição técnica que o CBERS-1. Este foi inativado em 10 de Janeiro de 2009.
Em seguida, em 19 de janeiro de 2007, foi lançado o satélite CBERS-2B, que continha uma Câmera Pancromática de Alta Resolução (HRC, na sigla em inglês), no lugar do sensor IRMSS (Imageador por Varredura de Média Resolução, na sigla em inglês). Apesar deste avanço em relação aos dois primeiros satélites do programa, o CBERS-2B operava à mesma altitude que os anteriores (778 km) e possuía o mesmo tempo de revisita de um mesmo local na Terra (26 dias). Ele foi inativado em 12 de maio de 2010.
2ª Geração CBERS
A segunda geração de satélites CBERS teve um início conturbado, com a falha do lançamento do CBERS-3 em 09 de setembro de 2013. Após a assinatura do acordo para a continuação do programa em 2002, com a previsão do lançamento dos satélites CBERS-3 e CBERS-4, o Brasil e a China resolveram adiar o lançamento do primeiro satélite da segunda geração e construir o CBERS-2B, pois o seu lançamento iria inutilizar os satélites da primeira geração, causando prejuízo para ambos os países e para muitos usuários do programa.
Após a falha no lançamento do CBERS-3, os países resolveram antecipar o lançamento do CBERS-4, que seria em 2015, para 07 de dezembro de 2014, realizando-o na base de Taiyuan, na China. Isso representou um avanço na capacidade técnica dos satélites brasileiros. Ele continha os sensores PAN, MUX, IRS e WFI, o que representou melhores resoluções espaciais (PAN), a capacidade de operar em múltiplas bandas espectrais (MUX) e a capacidade de obter imagens em um curto espaço de tempo (WFI), além de possibilitar obter dados na banda termal (IRS). Atualmente o satélite ainda está ativo.
Como a vida útil projetada para o CBERS-4 era de apenas 3 anos, em 19 de maio de 2015 o Brasil e a China assinaram um novo acordo para a produção e lançamento do satélite CBERS 04A. Aproveitando equipamentos reservas para a produção dos satélites 3 e 4, a produção foi um sucesso e o lançamento se deu no dia 20 de dezembro de 2019, no Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan (TSLC), na China. Com relação aos sensores, a diferença do satélite 04A para o 4 é que o mais recente não possui os sensores PAN e IRS, mas possui o sensor WPM (Câmera Multiespectral e Pancromática de Ampla Varredura), que trouxe uma melhor resolução geométrica e espectral.
Missão Amazônia
A Missão Amazônia consiste na produção de três satélites para formar uma rede de monitoramento com alta taxa de revisita, visando acompanhar continuamente o desmatamento na região amazônica. São eles o Amazônia 1, Amazônia 1B e Amazônia 2, sendo que, no início de 2021, o Amazônia 1 foi lançado com sucesso, percorrendo sua órbita numa velocidade aproximada de 27.000 km/h, o que o possibilita visualizar o mesmo local a cada 5 dias.
Focando em suas resoluções, o Amazônia 1 conta com um imageador óptico que capta 850 km por vez numa resolução de 60 m, contemplando 3 bandas espectrais na faixa do visível e uma banda no infravermelho próximo. Além de monitorar o desmatamento, o Amazônia 1 está habilitado para fiscalizar a zona costeira, desastres ambientais e atividades da agricultura.
Os satélites dessa série são formados por dois compartimentos: o Módulo de Carga Útil e o Módulo de Serviço (PMM). Esse segundo, também chamado de Plataforma Multimissão, representa um grande avanço tecnológico na indústria nacional, responsável pela validação do voo e de possível reutilização em diferentes tipos de satélites.
Apesar dos outros dois satélites do programa não terem sido lançados ainda, as informações até então divulgadas indicam que estes terão as mesmas características que o Amazônia 1. A previsão para seus lançamentos ainda não foi divulgada pelo INPE.
Projeto Lessonia - 1
O Lessonia - 1 é um projeto da Força Aérea Brasileira (FAB) até agora composto por dois satélites, o Carcará 1 e o Carcará 2, lançados ambos em maio de 2022. Consistem em satélites de órbita baixa de sensoriamento remoto, o que lhes permite gerar imagens de alta resolução, além de serem do tipo radar, possibilitando a captação de imagens sem serem obstruídas por nuvens.
Cada satélite possui um metro cúbico e pesa 100 kg. Foram lançados pelo foguete Falcon 9, pertencente à empresa SpaceX de Elon Musk, visando contemplar tanto necessidades internas das Forças Armadas quanto agências governamentais.
Os satélites do projeto Lessonia - 1 trazem informações que serão utilizadas tanto no meio civil quanto no meio militar, como: combate ao tráfico, mineração ilegal, vigilância de ZEE (Zona Econômica Exclusiva) e das fronteiras, monitoramento de navegabilidade dos rios e de desastres naturais. Além de fornecer imagens para produção de novos mapas.
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